Uma festa toda vez

Eu adorava ir à casa da minha avó. O que mais senti falta quando saí do Brasil era de poder passar os sábados divertidos que a gente tinha lá, com as mulheres conversando e tricotando ou bordando ou costurando ou corrigindo prova ou fazendo bolo ou café, e as crianças brincando. E os almoços de domingo animados, plenos de família. Muita comida, muita bebida, muita animação, muita risada.

Ela fazia questão da presença de todos, sem precisar falar nada. A gente sabia. E também fazia questão de ir, claro!

A casa da minha avó era um porto seguro. Era tão limpa que a gente podia brincar no chão sem se sujar. Era cheia de tesouros e mistérios. E de aventura. A gente brincava no jardim de pegar maria-sem-vergonha com aquela cápsula que se abria explosivamente, espalhando sementes mínimas para todo o lado. Os dias de sol quente eram compensados por um suco de laranja, uma limonada ou aquele suco de frutas inigualável, fresquinho e geladinho.

Às vezes, de domingo, um tio lavava o carro e era uma farra!

Tinha goiaba da goiabeira. Jabuticaba da jabuticabeira. Limonada cor-de-rosa do limão cravo do limoeiro. E uma rosa da roseira. Ela sempre me dava um botão ou uma rosa quando me via, fosse na casa dela ou lá em casa quando nos visitava de surpresa e eu abria a porta toda animada. Era tão reconfortante que ela morasse perto.

Tinha uma edícula! Era a única casa que eu conhecia que tinha isso. A gente podia brincar lá, mas não podia entrar no quartinho, nem na lavanderia. Tinha um banheirinho também, onde eu tinha medo de entrar. Será o banheirinho onde minha mãe lia escondida?

Durante um tempo, quando eu era bem pequena, tinha uma piscina regan que ficava na edícula. Não me lembro direito da piscina, mas vi muitas fotos. A gente “nadava” nos dias quentes e se divertia muito. Na edícula tinha um vespeiro e a gente morria de medo das vespas.

Meus primos, irmãos e eu adorávamos tudo lá, fora as vespas, claro.

A comida, sempre impecavelmente preparada e servida quentinha e saborosa e colorida. Não tinha quem não gostasse.

A Coca-Cola tinha gosto diferente lá, melhor.

Sempre tinha guloseimas também, um bolo feito em casa (que outro jeito?), um chocolate diferente, um licor especial da tia Lygia (quando já se tinha idade para beber, claro). E ela dividia tudo com os filhos e os netos, com prazer. E ela ajudou muita gente também.

Minha avó. Fortaleza, correta, rígida. Tudo em ordem, tudo limpo. Muitas lembranças. Almofadas no chão, roupas da chinesa, verdura do verdureiro, sala e salinha, casa cheia. Muita saudade.

(Minha avó faleceu há uma semana. E ela faz muita falta. A festa? Vai continuar. É o que ela gostaria. E ela estará sempre entre nós.)

3 responses to this post.

  1. Posted by Bruno on 12 October 2009 at 13:34

    Que texto legal… embora você se “lembre” de mais coisas do que eu, esse me pareceu um texto bem apurado, hehehe… eu lembro muito da piscina regan. Aliás, lembro do dia que você e o Ricardo ficaram jogando água no vespeiro, e EU levei a picada da vespa… bem atrás do joelho… hahahaha

    Reply

  2. Posted by anix on 16 October 2009 at 11:42

    Marminha que lindo o texto, marejei… que bom ter todas essas lembranças, olha que legado maravilhoso que deixou a vó, familia grande, feliz, todas essas lembranças, aspiro eu que meu legado na vida seja assim :)

    Reply

Leave a comment